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Fotos de Espíritos: Reflexão da Cultura e do Desconhecido

Foto do escritor: Lisandro AqueronteLisandro Aqueronte

Atualizado: 19 de set. de 2024

Explore como o fascínio por fotos de espíritos e casos assombração reflete nossa obsessão cultural pelo sobrenatural. Uma análise do uso do “Espírito Recreativo”.


Painel com várias fotos de pessoas no cotidiano, com círculos vermelhos destacando espíritos translúcidos.

Esta noite encontrei uma foto de nós, estava você eu e um borrão translucido atrás, olhei mais atentamente e vi que era um espírito no seu cangote, ai os velhos tempos que saudades… falando nos tempos áureos lá estava eu fuçando no Boca Do Inferno quando encontro um critica de Espíritos A Morte Está Ao Seu Lado o que me inspirou a escrever este texto, sabe, compartilhar com você velhas e não tão velhas histórias dos mortos, afinal de contas, eles estão por todas as partes, principalmente nas…


I. Nossas Fotos de Espíritos


Antes de mergulhar mais afundo nisso, permita-me dizer o porque este filme é especial: nos longínquos anos de 2006/2007 minha tia aparece em casa com esse DVD e a gente pois pra assistir.


“A trama gira em torno do fotógrafo Tun (Anada Everinghan) e sua namorada Jane (Natthaweeranuch Thongmee), que começam a perceber em suas fotos a misteriosa imagem de uma mulher, após um atropelamento em que ambos foram responsáveis. Estranhos sonhos e aparições começam a atormentar o casal, que decide investigar o que está ocorrendo. A verdade é que Tun parece querer ignorar o fato, mas Jane está disposta a ir até o fim das investigações, descobrindo que a mulher das fotos tem uma ligação com o passado de seu companheiro.” 1

Família toda reunida numa sessão que inciou ao crepúsculo e terminou à noite, resultando em incríveis momentos de horror. Vocês deviam ver: as caras congeladas; a tensão nos olhos da minha tia e prima; a sensação crescente, a cada cena, de haver mais alguém em casa além do nosso particular grupo, alguém que um dia esteve vivo e agora guarda o segredo do pós-morte. Aquela sessão de cinema foi mágica!

Mas porque foi tão especial? No seu ensaio sobre terror em Dança Macabra Stephen King diz:


“(…) o trabalho de terror não é nada senão arte; ele alcança o estatuto de arte simplesmente porque está procurando alguma coisa para além do artístico, algo que precede a arte: está procurando pelo que eu chamaria de pontos de pressão fóbica. A boa história de terror vai se embrenhar no seu centro vital e encontrar a porta secreta para a sala que você acreditava que ninguém além de você conhecia — como Billy Joel e Albert Camus apontaram, O Desconhecido nos amedronta… mas nós adoramos dar uma olhadinha nele às escondidas.” 2

                                                        

E que pontos de pressão fóbica foi esse que Espíritos encontrou e deixou todos, ou quase, aterrorizados e acima de tudo fascinados?

Todas as pessoas que assistiram aquele filme o tratavam de maneira diferente como se guardasse algum segredo transcendente e de certo modo era isso: ele é a manifestação física de algo no nosso subconsciente: a sombra dos espíritos. Entre todas as obras essa foi o que melhor captou o que estava flutuando no consciente coletivo e a transformou numa experiência sensorial imagética.

Vivemos numa cultura com a constante presença de espíritos, algo que vejo desvanecendo nas novas gerações, mas enfim, mitos, lendas e ate a TV nos bombardeou com fascinantes histórias de espíritos capturado em vídeo, fotografia e etc. Minha vó, a nossa matriarca, vivia contando histórias dessas entidades, ora guardiãs, ora malignas. Tudo isso entram em nós, se alojaram no nosso consciente coletivo e lá ficam vivendo como sombras da humana experiência da vida até ser capturada pelo filme e usada como arma contra a gente, não de um jeito ruim, mas um deliciosamente masoquista… quem não adora um chicote…

Isso nos leva a questão dos…


II. Espíritos Recreativos


Se a alma dos mortos é mesma dos vivos e o que difere é apenas o corpo de carne, então, convertemos pessoas comuns em monstros! Mais que isso, criamos uma versão astral dos antigos zoológicos humanos, transformando dor e sofrimento em espetáculo.

“Vá ao banheiro, apegue as luzes, chute o vaso três vezes e diga três palavões a assim que olhar no espelho verá, a loira do banheiro” (cada região tem a sua própria variação do rito de invocação)

Se não funcionar pode tentar o bom e velho “Maria sangrenta, Maria sangrenta, Maria sangrenta” e se não der certo usar o plano B e a chamar pelo nome em inglês: “bloody Mary, bloody Mary, bloody Mary”. Se ela não vier talvez não tenha entendido sua pronuncia. Não desanime, quem sabe Charlie Charlie te escute se não der certo, talvez, um tabuleiro ouija, jogo do copo ou compasso resolva.

Na cultura, arte e jogos usamos os espíritos como instrumentos de entretenimento. Lembro que nos áureos tempos da Internet entravamos no falecido Assustador.com.br par praticar um bom e velho terror recreativo…


Print do antigo site Assustador.com.br com um banner preto e branco de cemitério no topo, seguido por um menu e várias caixas de texto com informações. O site tem uma estética retrô, típica da internet dos anos 2000, com predominância das cores preto e vermelho.
O site Assustador.com.br foi um dos portais mais famosos de terror no Brasil nos anos 2000, conhecido por seu conteúdo gráfico e relatos sobrenaturais que marcaram uma geração de internautas fascinados por mistérios e lendas urbanas como esse autor que vos fala.

…por meio de supostas fotos de fantasmas geralmente em ambientes como cenários de homicídio; suicídio; acidentes e tragédias famosas; sala de autópsia e casa mal-assombradas.

Uma das imagens mais marcantes da minha era de assustador.com.br foi numa autópsia onde do lado do corpo do morto podia ser visualizado com perfeição um demônio clássico com chifres e tudo.

De fato, é muito curiosa essa relação que temos com os espíritos, se duvidar, aposto que você está lendo este ensaio com finalidade de entretenimento, o que levanta uma questão…


III. É justo Incomodar os Espíritos?


“Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”

— Friedrich Nietzsche


Aqui começamos a entrar no escopo da existência ou não de espíritos. Até onde se sabe não existe evidência científica nenhum da existência deles. E supondo que existam, eles seriam humanos e como todos os grupos humanos teriam pensamentos complexos e diversos sobre tudo, logo um espírito não pode falar por todos, só por si próprio.

Apesar da minha crença na continuação da consciência após a morte, não gosto de ver a questão dos fantasmas humanizadas, na minha visão eles funcionam mais como uma alegoria para as Sombras de nossa mente, algo mais próximo de um portal para a subconsciente do próprio observador do abismo do que uma identidade humana.

Então, na minha opinião, espíritos nas histórias de terror não passam de metáforas coletivas ou individuais para os mistérios da mente dos vivos enquanto os supostos espíritos, se eles realmente existirem, estão para além da minha compreensão.

Em todo caso, se eles se sentirem incomodados podem simplesmente vir até os ofensores e reclamarem, por que não? Não seria melhor do que eleger um paladino que aparentemente fala sozinho e não tem prova alguma das alegações que diz?

Mas pelo visto deste do fenômeno das mesas girantes da França do século XIX eles andam meio calados I, parece até que estão mortos, eu hein… mas já que estamos aqui me deixe contar…


IV. Uma História de Fantasmas


Há muito tempo, e nem comigo foi, dizem que a escola era assombrada: no passado aquele lugar era frequentado por freiras e muitas lá estavam por vontade dos pais que tratavam as filhas como objetos, querem as dominar, querem ter poder e qualquer sinal de rebeldia as mandavam para convento, tratando seu libido com pecado e condenada a reza toda vez que o tesão sobrava em seu ouvido como um fantasma galante à meia-noite. Existência miserável e reprimida, muitas não aguentaram e daquela sacada puseram fim a sua vida.

Os tempos mudaram, mas dizem que nem todos os espíritos conseguiram partir, estão presas nos dramas idiotas de eras que nem mais existem. E assim, num dia de aula, um menino, filho de uma professora se desprende dela e dá dois passos a frente, logo a atenção da mãe se atenta para a criança para ali em pé, falando sozinha. A mãe intrigada vai ao filho e pergunta:

— Com quem você está falando?

— Com a moça com o chapéu engraçado na cabeça — diz o menino apontando para o vazio.

Assustada a mãe puxa o filho pelo braço o repreendendo por falar sozinho e sai de lá, sem jamais esquecer deste estranho dia.

Isso foi verdade ou mentira? Não sei, foi só uma história boba que uma professora me contou e eu tive que aumentar as partes que faltavam, mas quem sabe não tenha fantasmas lá ou aqui, quem sabe, quem sabe…


V. Saudades


E aqui tudo termina, a critica me levou a reassitir o filme, mas os tempos mudaram, minha família mudou, eu mudei. Atmosfera hipnótica daquela era distante não existia mais, sem falar que meus paradigmas estavam diferentes. O filme era o mesmo, mas eu não. O que é uma pena, o filme continua bom — tirando uma infame piada transfóbica. Mas sem aquela atmosfera, alguma coisa se perdeu, até parece que algo em mim morreu… que irônico.

                 


Em um corredor o espírito de uma mulher anda em pé no teto, por esta de ponta cabeça seu cabelo cai para baixo, embora suas roupas, imundas, continuam no lugar desafiando a gravidade. Seu rosto é pálido com os olhos marcados de preto, vestígios de lágrimas de sangue.



 
Notas:

                                                                                            

I. Mesas Girantes, Mesas Dançantes ou Mesas Falantes, além de outras denominações similares, são um tipo de sessão espiritual em que os participantes se reúnem em torno de uma mesa com a intensão de evocar fenômenos mediúnicos do tipo de manifestações físicas, nas quais os Espíritos manipulam esse móvel — ou, eventualmente, qualquer outro objeto — fazendo-o levantar-se, saltar, girar, dançar, produzir pancadas etc. Reuniões desse tipo tornaram-se comuns em meados do século XIX, durante a eclosão do movimento chamado Espiritualismo Moderno, que surgiu nos Estados Unidos da América, com o célebre episódio das Irmãs Fox (final dos anos 1840), sendo logo em seguida importado para a Europa e outros grandes centros urbanos no restante do mundo. (luz espírita)


 
Fontes:

1. COSTA, Ivo. Espíritos - A Morte está ao Seu Lado (2004). Boca do Inferno. Disponível em: <https://bocadoinferno.com.br/criticas/2013/01/espíritos-a-morte-esta-ao-seu-lado-2004/>. Acesso em: 17 set. 2024

2. KING, Stephen. Dança Macabra: o terror no cinema e na literatura dissecado pelo mestre do gênero. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

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