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O Que É Queer Horror?

Foto do escritor: Lisandro AqueronteLisandro Aqueronte

Atualizado: 3 de jul. de 2024

Queer Horror, este é um termo que você verá bastante aqui, mas o que diabos significa? Este artigo é sobre o seu significado e acima de tudo sobre sua luta.



Uma gravura mostrando Freddy Krueger de pé ao lado de Jesse Walsh, um adolescente loiro que deita a cabeça no ombro do Freddy fazendo assim uma paródia do cartaz do filme Me Chame Pelo Seu Nome onde os protagonistas estão na mesma posição. Abaixo da imagem está escrito Queer Horror e algumas manchas de sangue espalhadas pela imagem.
“Queer é o termo que diz respeito a quem não se identifica e não se rotula em nenhum gênero. Em suma, faz referência àqueles que não correspondem à heterocisnormatividade e tem origem inglesa. A tradução literal seria ”estranho”. Algumas pesquisadoras defendem que não há tradução. É, em suma, um termo guarda-chuva, ou seja, abarca uma série de identidades e formas de se referir a pessoas que não correspondem a cis-heteronormatividade”


O Queer Horror é um conceito amplo embarcando deis de obras feitas por artistas da comunidade a produções com temático ou personagens LGBTQIAPN+.

Neste santo espaço profano quando você me ouvir dizer que escrevo queer horror o que estou dizendo é que minhas obras são protagonizadas por personagens LGBTs. As vezes trato de temáticas ou subtextos da comunidade, porém acho mais rico, e divertido, trazer essas pessoas à literatura.

Bem, se você só queria saber o significado do termo, está aí, mas se quiser se aprofundar mais um pouco, me dei sua mão e vamos dançar um pouco no inferno:


I. Sejam Bem-Vindes Todos Maldites!


“Eu acho que a identificação de pessoas LGBTQIA+ com os filmes de terror tem a ver com a identificação dos outsiders, de figuras que vão do monstro de Frankenstein a Carrie, a Estranha. Nos filmes, há sempre este monstro solitário e incompreendido, ou ao menos o que a sociedade vê como um monstro. Mas você, como espectador, está com eles, dentro do coração deles, e sabe que são lindos, ou que foram corrompidos por um mundo maligno”

Don Mancini, criador da franquia Brinquedo Assassino em uma entrevista ao Buzzfeed.


Nós sempre estivemos por aí, deis do princípio da humanidade, e por séculos sofremos com apagamentos históricos, principalmente com a ascensão da igreja católica. Fomos marginalizados, criminalizados e tidos como malditos, serem tão terríveis que as sociedades de outrora nem ousava nos chamar pelo nome, diziam apenas “aquelas pessoas”.

Sim, sou uma “daquelas pessoas” e mesmo com o mundo tentando nos calar, nosso espírito é forte e caminhamos na escuridão. Mesmo sem espaço cultural e oprimidos por mecanismo estúpidos como o código Hays1 nos EUA encontramos na arte um espaço para liberdade (não tão amplo como hoje) iniciando o que chamarei da primeira era do Queer Horror moderno: A Era Dos Subtextos.

Vários artistas queer encontram no terror uma janela para conversar sobre o que não era falando por ninguém e assim criar um paralelo entre homossexualidade e a “monstruosidade” ou como gosto de chamar: o monstro amigo. Não vou me aprofundar muito nisto, pois o pessoal do Boca Do Inferno já fez isso numa maravilhosa série de artigos explorando o Queer Horror em vários períodos, da década de 30 aos anos de 2010. Se quiser saber mais recomendo a leitura aqui: Horror Queer: Quando o medo é a baixa representatividade.

A questão é que nós já estávamos aqui muito antes disto, vide o exemplo de Carmilla (1872) do irlandês Sheridan Le Fanu, quem não ama uma história de uma vampira lésbica, não é mesmo?

Assim como a comunidade o terror sempre foi um gênero rejeitado, excluído e mesmo assim forte, muitos de nós, inclusive eu, encontramos nestas páginas sombrias um lugar feliz, uma casa assombrada onde podemos ser nós mesmo.

Está certo, há uma predominação da heteronormatividade no gênero tão pensado para jovens adolescentes, questão em grande parte culpa dos slasher, mas está é uma questão pra outrora. Além do mais os tempos mudam e é possível observa uma crescente representatividade dentro do gênero.

Chegamos agora nesta parte, onde o renegado os renegados se encontraram para formarem uma linda e grande família feliz, ou em outras palavras: Sejam Bem-Vindes todos maldites!

Embora, algumas pessoas ainda vem à minha porta com questões como…


II. “Por que você só escreve isso?”


As pessoas vivem me fazendo essa pergunta, porém ela está mal concebida e é bem tonta na verdade. Observe, quando me perguntam isso, na verdade querem pergunta: por que você só escreve histórias de terror com personagens LGBTs?

Tá vendo, agora as coisas estão mais claras. Respondendo: vivemos num mundo onde a maioria dos autores, quase todos, passara a vida inteira criando e lendo sobre casais heterossexuais e você não acha isso estranho? Não acha esse patrão extremamente repetitivo? Não cansa de ouvir a mesma história?

Essa é a minha questão, eu sou um movimento de contracultura e quero quebrar com isso, quero mostrar o que existe para muito além daquele patrão enlatado dos U.S.A.

E pra quem diz que eu só escrevo personagens LGBTs e por isso estou me repetindo, saiba:


I. Eu escrevo sobre a comunidade LGBTQIPA+ e da comunidade eu só sou o G da sigla, ou seja, para conceber a minhas histórias preciso está envolto numa grande variedade de vivências de pessoas iguais e diferentes ao mesmo tempo e eu amo isso, embora, de fato, exista uma predominância de personagens gays na minha literatura;


II. O terror é o meu gênero favorito e pra mim são poucas as felicidades da vida que se equiparam a uma história de terror bem escrita (sim, estou plagiando Stanley Kubrick), então, ser rotulado como um autor de horror não me incomoda, na verdade, é exatamente o que eu sempre quis. Até escrevo outras coisas, talvez um dia publique, mas não é minha prioridade no momento e nem sei quando será;


III. Estou carente de representatividade, sinto falta e como não surge nenhum novo Stephen King para suprir os mais ardentes desejos do meu coração, decidir criar o meu próprio mundo sombrio Queer, afinal de contas, se eu não fizer quem vai fazer? Vocês acham que é demais, mas eu não passo de uma gota no oceano e tudo está destinado a escuridão, então vamos aproveitar o pouco tempo que nos resta e fazer um tremendo show. Como diria outro grande artista queer do rock nacional:


“Ora, se você quiser se divertir

Invente suas próprias canções”


Renato Russo na canção Marcianos Invadem a Terra.


 
Notas

1. O Código Hays foi um conjunto de diretrizes de censura para filmes de Hollywood, estabelecido em 1930. (…) O principal objetivo do código era evitar a representação de conteúdo considerado imoral, obsceno, indecente ou ofensivo, com medo de que isso corrompesse os espectadores, especialmente os mais jovens.


Referências

1 Comment

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Guest
Jan 22, 2024
Rated 4 out of 5 stars.

É muito importante ter autories e personagens LGBTQIAP+ em todos os gêneros da literatura! É muito legal ver mais um autor de terror que coloca representatividade queer em suas obras.

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